A boa hora

Como o desabrochar de uma flor, é o nascimento de um bebê, que enraizado por um tempo se prepara para ser colhido. Assim como a flor que não pode ser arrancada antes de desabrochar completamente, o bebê não pode ser retirado do abrigo materno antes de estar pronto para vir ao mundo. O parto que respeita a boa hora do desabrochar da vida humaniza o nascimento. A boa hora é o momento que o bebê escolheu para nascer.

Textos, fotos e site: Iasmim Amiden

Os protagonistas

 

A força da cena do parto, como a de um enredo televisivo ou teatral, consiste na busca da realização de um desejo do personagem principal. Na cena do parto o desejo é o nascer na boa hora e cada um detém um papel determinante para realizá-lo.

 

Os coadjuvantes, doula, obstetra e enfermeiros, auxiliam no desenvolvimento da cena para garantir que o desejo principal seja bem alcançado. O co-protagonista é o pai que acompanha a gestante em trabalho de parto para ampará-la a qualquer momento e fortalecê-la para concretizar o desejo que compartilham. O personagem antagonista é identificado nas cenas de parto em que há desrespeito à mulher  com omissão de informações e induções desnecessárias que interveem na boa hora do nascimento.    

Os papeis dos protagonistas são da mãe e do filho, os personagens que sustentam a narrativa da boa hora e toda a atenção do momento é voltada à eles. O filho além de protagonista assume o papel de personagem central, que desperta excitação e ansiedade em todos que acompanham a história de seu nascimento.

"O desejo da gestante é tudo"

Doula Fabrina Flores

A vinda da Joana

 

Fim de tarde do dia 16 de junho de 2015, o sol se escondia enquanto o frio e a noite se aproximavam. No ascender das luzes de Campo Grande havia pouco movimento nas avenidas, a temperatura baixa afastava das ruas frias os amantes do calor da capital. Do apartamento 08 da Maternidade Cândido Mariano, aquecida pelo calor humano que a cercava, Tatiana ansiava pelo nascimento de sua primeira filha, Joana.

Mulher jovem de cabelos lisos e negros, olhos castanhos escuros e sorriso tão cativante quanto seu sotaque carioca, Tatiana estava entretida no quarto na companhia de sua mãe, de sua sogra e de seu marido. Contava que sua escolha era pela boa hora do nascimento, a hora que Joana escolheu para nascer. E naquele dia, após o rompimento da bolsa, começou a contagem regressiva para este momento tão esperado.

Cada minuto dentro do apartamento era um suspiro mais intenso, um olhar mais emotivo e gestos inquietos.

Tatiana sentia vontade de ir ao banheiro, de andar, de deitar, de comer e deixou que a ansiedade transparecesse por tais desejos, que se aguçavam com o passar das horas. Transluzia também alegria, enquanto recebia parentes e amigos que compareciam para dar apoio e falar da novidade. Todos entusiasmados pelos pais de primeira viagem.

Com a chegada da noite, a temperatura continuava a cair, mas acalorados pela emoção, ninguém do apartamento 08 conseguia sentir a sensação térmica baixa. No apontar do relógio às vinte horas, Tatiana recebeu a visita da médica que a acompanhou durante os nove meses de gestação. Com educação, pediu que todos saíssem do quarto para ela e Tatiana conversarem com privacidade. Parentes e amigos se entreolharam preocupados, mas respeitaram o pedido. Poucos minutos se passaram e logo a médica abriu a porta e todos entraram silenciosos.

 

Tatiana com tranquilidade compartilhou a notícia antes que todos ficassem desassossegados de curiosidade.

 

— Os exames que eu fiz apontaram para uma infecção que coloca minha gestação fora do quadro de baixo risco. Acho que a Joana não vai vim do jeito que esperávamos, mas temos que fazer o melhor para ela.

Neste momento, todos se abstiveram de dúvidas e Tatiana e seu marido tiveram certeza da melhor decisão a tomar para o nascimento de sua filha. Joana chegaria ao mundo pela cesárea.

Às 21h, Tatiana começou a se preparar para o procedimento. Colocou seu par de chinelos mais confortável, tirou seus brincos e caminhou até o andar de baixo da maternidade, onde Joana seria recebida. Os familiares se despediam da gestante para aguardar do lado de fora da sala de cirurgia enquanto seu marido aguardava a doula, que de outro canto da cidade saía às pressas para a maternidade.

Passado alguns minutos, o marido de Tatiana encontrou a doula ofegante na sala de espera. Não conversaram muito. O silêncio refletia a concentração de ambos para o momento. Seus pés inquietos batiam no chão em sincronia com os segundos que se passavam até que foram chamados para entrar na sala de cirurgia.

Chegada a boa hora do nascimento de Joana, Tatiana demonstrou tranquilidade durante a cesárea. De mãos dadas à doula, caminhava seu olhar por toda a sala até encontrar o olhar de seu marido, que sentou ao seu lado emocionado e sussurrou:

 

— Que bom que está tranquila. Escolhemos o melhor para ela.

De fora da sala, parentes e amigos esperavam impacientes. Estavam todos eufóricos. A cada rosto novo que vinha ao vidro em que se mostravam os recém-nascidos, gritavam ao perguntar: É a Joana? Nasceu?

 

Alguns minutos antes de completar as vinte duas horas, os médicos avisaram que Joana estava para ser retirada do ventre que a acolhia. Assim que conseguiram segurar o pequeno corpo que repousava dentro de Tatiana, as luzes da sala foram reduzidas para que a vida aguardada fosse recebida tão bem quanto fora dentro da barriga de sua mãe.

Joana nasceu de cílios longos, cabelos escuros e unhas compridas. Todos na sala diziam o quanto era parecida com Tatiana. Nos primeiros minutos de vida foi entregue a sua mãe para ser amamentada. Faminta, Joana mamou por um longo tempo, suficiente para reconhecer a afeição de sua mãe e o carinho de seu pai enquanto a ajudava na primeira amamentação.

O nascimento da Joana foi anunciado para a família e amigos que esperavam na maternidade. Foram pulos de alegria, abraços e lágrimas de felicidade. Ao ver a pequena menina saudável, tiveram certeza que o respeito a boa hora do nascimento foi a melhor escolha que fizeram.

A escolha

 

Na primeira gestação a mulher se insere em um novo mundo de descobertas. Assim que nota transformações físicas e emocionais que está para sofrer, começa a procurar informação sobre o que por nove meses fará parte constante do seu dia a dia. São inúmeras dúvidas que, se não forem bem explicadas, podem resultar numa escolha desfavorável para o nascimento de seu filho.

52%

88%

dos nascimentos no Brasil ocorrem por cesariana enquanto a  taxa  aceitável pela Organização Mundial da Saúde é de 15%

dos nascimentos na rede privada são por cesariana enquanto a OMS indica este método em casos de risco à mãe e ao bebê

 Fonte: Portal Brasil

Para ter a certeza de que fará uma boa escolha, a escolha da boa hora, a mulher procura por profissionais humanizados, que acima de interesses lucrativos se comprometem em orientá-la com toda a informação que é de seu direito saber.





Obstetra Paula Lidiane

Profissionais da saúde que atuam para a indústria do nascimento corrompem o vínculo criado pela natureza, a gestação, e põem em risco o bem estar de quem vai parir e de quem está para nascer. Por falta de informação, a mulher cede à indústria, que traz cada vez mais bebês ao mundo antes da sua boa hora. A informação é o caminho para a humanização do parto, do nascimento e para a melhor escolha.

"Eu adquiri informação para poder fazer uma escolha melhor" - Letícia

 

"Na minha primeira gestação, eu era totalmente sem informação e totalmente a favor da cesárea e as pessoas me perguntavam: e aí como vai ser o parto? Claro, cesárea, sem dúvida. Mas por quê? Na minha cabeça e do meu marido, e como eu acredito que na da maioria dos futuros pais, eu pensava que a cesárea fosse algo criado para melhorar nossa vida. Então para mim não era uma coisa melhor para o sistema, melhor para o médico, era melhor pra mim, para todas as mulheres. Pra quê eu vou sentir dor?  Eu e meu marido fomos a uma médica que apoiava a cesárea totalmente, tanto que ela não cogitou, nunca explicou a possibilidade de fazer de outro jeito, nunca nem me informou um pouquinho para eu poder escolher. Ela sempre me encaminhou para a cesárea e eu sempre confiei nela. Então nós marcamos a data para o meu filho nascer e eu sofri muito no pós-operatório. Aquilo para mim tinha alguma coisa errada, eu sempre falava para o meu marido: tem alguma coisa errada. E quando o Vitor nasceu eu percebi que foi muito antes da hora certa. Ele nasceu com cesárea marcada para 39 semanas. Imagina se a hora certa fosse 42. Ele nasceu quase um mês antes. Um mês na barriga é muito. Ele teve refluxo e teve outras coisas que podem ser consequência dessa escolha. Então você vê que no mundo, se você não cuidar do seu interesse, ninguém vai cuidar. Informação é tudo.  Eu adquiri informação para poder fazer uma escolha melhor quando assisti o filme O Renascimento do Parto e aquilo mudou minha vida". (Depoimento de Letícia)





Gestante Letícia Martines

O amparo

 

Um sentimento comum entre as mães de primeira viagem é a dúvida, que ao longo de nove meses colide com a ansiedade e o medo. As dúvidas pela inexperiência sobre a boa hora recebem amparo quando encontram apoio coletivo. Na capital sul-mato-grossense, o Grupo de Apoio à Maternidade Ativa da Aldeia (GAMAAL) recebe mensalmente mulheres, homens, gestantes, famílias e toda pessoa interessada nos temas da gestação, parto e amamentação.

São pessoas amparadas por profissionais da área da saúde, como doulas, obstetras, terapeutas e outros, que esclarecem os temas técnicos com enfoque na humanização.

O encontro do GAMAAL acontece aos sábados, durante o período da tarde, no Shanti Yoga.

O Grupo também tem apoio e amparo para funcionar. A Aldeia Materna sustenta a realização do GAMAAL para garantir que mães de qualquer classe social sejam bem informadas e orientadas aos cuidados de profissionais que lutam pelo direito da boa hora, de gestar, parir e amamentar.  Uma das mães desta aldeia, Camila, reforça que o impacto destes eventos é consequência do suporte coletivo e que as atividades são realizadas para fortalecer a maternidade ativa.  “Somos um grupo de apoio à gestação, à maternidade ativa”.

O amparo se estabelece em outros lugares e por outras pessoas. A Aldeia e o Grupo são duas das muitas atividades realizadas na capital. Doulas particulares e voluntárias promovem reuniões com doulandas nos parques da cidade, médicas incentivam o encontro de jovens mães que não tem acesso ao sistema particular para obter melhores orientações, ativistas fomentam blogs e páginas na internet com o intuito de semear discussões sobre o tema.

 

O amparo se resume então ao coletivo, fonte de apoio à luta da humanização, seja do atendimento hospitalar, do direito à presença da doula durante o parto, do direito de parir e amamentar e principalmente do respeito à boa hora.

A melhor amiga

 

Derivada do grego, a palavra Doula significa “mulher que serve”. Em tempos remotos tinha conotação negativa por se referir a uma criada doméstica que acompanhava as mulheres com melhores condições financeiras, apesar de terem sido uma das figuras mais importantes no acompanhamento dos partos da época. Com a mudança da cena do parto para o hospital, alguns apoios físicos e emocionais se perderam junto à falta de métodos humanizados em respeito à mulher e ao bebê. O reconhecimento da profissão Doula pela Organização Mundial da Saúde e pelo Ministério da Saúde foi um dos frutos colhidos desta longa trajetória de luta pela valorização deste trabalho.

Hoje, a doula é como uma melhor amiga das mães que lutam pela boa hora e humanização do parto, sejam estas mães ricas ou pobres. Em momentos de fraqueza física e emocional, a doula é a estrutura do empoderamento, é a base dos sentimentos positivos e da força das palavras de incentivo. A doula traz tranquilidade àquela que irá parir e à nova vida que chega.

Durante a gestação a doula vai até as casas das futuras mamães para conversar sobre como será a chegada do bebê, quais serão os preparativos, o que precisa ser exercitado ao longo de nove meses. Explica ao pai qual será seu papel no ato do nascimento e qual será o apoio necessário que prestará a mulher.

 

Em trabalho de parto a mãe é acolhida pela doula com abraços, massagens, carinhos e cantos de calmaria. Gestos de afeto que estimulam a confiança entre essas mulheres e fazem fortalecer o vínculo desta amizade. Durante o parto, as doulas seguram suas mãos e deixam que toda a atenção do momento seja voltada à mãe e ao bebê, à cena do nascimento. Deixam que ambos sejam protagonistas do que a natureza determinou que fosse.

 

Nas boas vindas do bebê, no momento do pós-parto imediato, as doulas ensinam a carregar o recém-nascido com extremo cuidado, orientam a primeira amamentação, logo após sair da barriga da mãe, e como colocar a primeira vestimenta.

A chegada do Enzo

 

Na madrugada do dia 24 de junho de 2015, última quarta-feira do mês, Fernanda, uma jovem de 23 anos, cabelos longos e pele clara, sentia desconforto para dormir. Sentia seu travesseiro e colchão afundar quando deitava, seus pés suavam, suas mãos tremiam, ora sentia calor ora frio e tudo em seu quarto parecia incomodar.

 

As luzes não permaneciam apagadas por muitos minutos, Fernanda sentia a necessidade de acendê-las, olhar o relógio e perceber há quanto tempo estava sem conseguir descansar. Enquanto seu marido cuidava da pequena Hevelin, a primeira filha do casal, Fernanda ansiava a chegada do caçula, Enzo.

 

Escolhida a boa hora, Fernanda aguardou cada minuto daquela madrugada consumida pelo desconforto, mas estimulada pela adrenalina de ter em breve Enzo em seus braços. Não bastou muitas horas ali naquele quarto imaginando a que momento seu filho escolheria para nascer que Fernanda percebeu a bolsa estourar e todo o seu corpo estremecer. Desassossegada gritou por seu marido, avisou que Enzo estava a caminho do mundo e era a hora de recebê-lo.

 

Seu marido pegou a bolsa em que estava guardada parte do enxoval, deixou Hevelin adormecida com os avós e acompanhou Fernanda até a Maternidade do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP). Localizado dentro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o hospital é reconhecido pelos profissionais que acolhem suas pacientes em trabalho de parto e respeitam a escolha pela boa hora do nascimento.

Amparada por alguns desses profissionais de plantão naquela madrugada, Fernanda foi encaminhada ao quarto onde passaria as próximas horas à espera de Enzo. Conduzida em cadeira de rodas, a jovem observava os pequenos corredores que levavam aos outros quartos em que outras mães aguardavam seus bebês. Os gritos e as risadas de longe chamavam atenção de Fernanda, que a cada minuto transparecia a inquietude para receber Enzo.

 

Ao entrar no quarto, recebeu orientações da obstetra e das enfermeiras. Fernanda precisava trabalhar seu corpo enquanto aumentavam as dilatações. O primeiro passo no trabalho de parto foi sentar na bola de pilates e fazer movimentos circulares com a cintura para relaxar toda a tensão de seus músculos e amenizar os incômodos das contrações. Com a necessidade de sentir-se mais confortável, Fernanda pediu para tirar as roupas apertadas que vestia e colocar sobre seu corpo um lençol.

Quando a bola de pilates já não suavizava mais as contrações, as enfermeiras sugeriram colocar Fernanda na banqueta de parto, pois sua dilatação já estava total e a boa hora do parto exigia que todas as forças fossem voltadas ao nascimento de Enzo. A banqueta favorecia as forças de expulsão que Fernanda sentia vontade de fazer a cada contração.

 

As horas passavam e a manhã havia chegado, os raios de luz entravam pela janela do quarto e tomada pelo cansaço Fernanda pediu para deitar na cama. Sentia vontade de fechar os olhos entre uma contração e outra e aos poucos entrava na Partolândia.

"O universo dela"

Obstetra Joana Soares

Entre contrações, ansiedade e cansaço, a mulher se insere em um universo de pensamentos e sensações que retiram sua atenção do ambiente que a envolve durante o parto. Este universo é chamado de Partolândia, onde a mulher não escuta, não responde e não enxerga nada a mais do que aquilo que quer ver.

As forças de seus músculos se concentram em um só ato, o do nascimento de seu filho. Os ouvidos só querem ouvir o som do coração, os olhos querem enxergar a vida tão esperada e as mãos querem sentir o corpo que por nove meses acolhe dentro de si. A Partolândia é a hora de a mãe ter em seu próprio universo só ela e seu filho.

 

Fernanda não viu as enfermeiras entrarem e saírem do quarto, não viu seu marido sentado ao seu lado, não sentiu as mãos da médica em seu corpo. Ela fechou os olhos e deixou que toda a sua força fosse para Enzo.

A médica e as enfermeiras deixaram que Fernanda tivesse todas as sensações de um parto, sentisse todas as emoções, dores e alegrias. Permaneceram tranquilas todo o tempo, pois sabiam que tudo estava bem e Enzo logo chegaria. Pediram mais uma vez para Fernanda tentar trabalhar o parto na banqueta. Apesar de não ter respondido com palavras, ela acenou com a cabeça e seu marido a carregou. Sentado atrás de Fernanda, ele prendia seu cabelo e sussurrava em seu ouvido.

 

 — Está tudo bem meu amor. Ele está chegando. Ajude ele a chegar.

Fernanda  fez sua última força e todos sorriram com lágrimas nos olhos de emoção.

 

Enzo nasceu naquela quarta-feira e trouxe um inverno mais caloroso a seus pais. Às 11h30, seu pai cortou o cordão umbilical e Enzo respirou por seus próprios pulmões. Fernanda o carregou em seus primeiros minutos de vida enquanto pedia-lhe perdão pelos momentos de fraqueza, mas ao vê-lo saudável sentia gratificação por ter escolhido e respeitado sua boa hora.





Mãe Luana Chadid

"A última força que eu fiz ela nasceu" - Luana

 

 Conheci minha obstetra com sete meses de gestação e ela falou que eu tinha todas as possibilidades de ter um parto normal e tranquilo. Quando eu entrei em trabalho de parto, eu estava com 36 semanas, a Céu é prematura. Não tinha muita dilatação, mas muitas contrações de treinamento. Eu tinha muita. A médica disse que era muita ocitocina no meu corpo. Eu parei de trabalhar, fiquei de repouso de 36 semanas para 37 e ela nasceu de 38 semanas e meia.

No dia que eu entrei em trabalho de parto mesmo, ativo, foi em um domingo às seis da tarde. Comecei a sentir cólica e logo pensei que ela ia nascer porque nunca tive cólica durante toda a gestação. Eu fui caminhar no Parque das Nações, porque o próprio nome diz, trabalho de parto, a gente tem que trabalhar. As contrações começaram a aumentar e eu chamei a minha doula. Ela me fez chá de canela, fez massagem, trouxe a bola de pilates que ajuda a relaxar. E às três horas da manhã eu falei: pode ir para sua casa, acho que quando for a hora dela nascer eu vou saber.

Às cinco da manhã eu disse ao meu marido: amor está na hora de ir para a maternidade! Fomos para o consultório da Doutora umas oito da manhã. Eu já estava com cinco centímetros de dilatação. Eu queria parto na banheira então tivemos que encher a banheira com balde. Enquanto enchia a banheira a minha dilatação foi para total, eu cheguei com cinco centímetros e já estava com dez centímetros quando eu entrei na banheira. A Céu estava com a cabecinha mal encaixada e ela não estava querendo sair. Fiquei quatro horas em fase expulsiva, fiquei com muita dor. Então a médica disse: Eu vou pegar o fórceps, mas se você sentir vontade de fazer força, você pode fazer. Eu estava pedindo para Deus que eu não queria machucar minha filha, não queria isso, não queria precisar usar fórceps. E quando a Doutora saiu para pegar o fórceps, eu fiz uma força e a Céu nasceu. A última força que eu fiz ela nasceu.  (Depoimento de Luana)

Diário da autora

Esta reportagem foi produzida para a disciplina de Prática em Reportagem Fotográfica do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Agradecimentos especiais ao professor Silvio Pereira pela orientação do trabalho, à professora Katarini Miguel pela revisão do texto e ao meu namorado Victor Sanches pelo apoio e paciência durante o processo

Diante a todas as experiências que vivenciei durante este trabalho não podia deixar de compartilhar meus agradecimentos às mães que me deixaram participar de seu universo materno, às médicas que me ofereceram apoio e me instruíram sobre a boa hora do nascimento, às doulas que permitiram que eu participasse de suas aulas sobre gestação e principalmente às pessoas que acreditaram na minha força de vontade para fazer esta reportagem acontecer.

 

Como jornalista que pretendo busquei entender cada lado das histórias, ouvi muitas pessoas falarem sobre o assunto, estive em muitos lugares frequentados pelas mães que buscam informação e participei de dois nascimentos que me fizeram amadurecer como profissional e como mulher que tenta entender toda a natureza que nos envolve, principalmente a natureza do nascer.

 

Dentro de um período de dois meses realizei entrevistas, fotografei e criei este site para dar vida à reportagem. Este foi o tempo estipulado pela disciplina para a qual fiz este trabalho e então encontrei algumas dificuldades ao longo dessas oito semanas. O maior desafio foi conseguir os partos para fotografar. Fiz muitos contatos, mas a maioria das gestantes contavam em ter seus bebês depois do inverno. Pedi então às obstetras e às doulas que me avisassem quando uma vida estivesse para vir ao mundo e eu então largaria tudo para vivenciar este momento. Neste tempo tentei conversar com algumas gestantes que estavam para entrar em trabalho de parto, mas muitas não queriam a exposição e outras até mesmo disseram que seus maridos não aprovavam uma mulher exibir seu corpo durante o parto.

 

Nas últimas semanas para concluir a reportagem, uma gestante que eu nunca havia conversado me ligou dizendo que soube do trabalho e ficaria muito feliz em me receber. Eu devo confessar que até mesmo escrevendo sobre este fato fico emocionada quando lembro como fui tão bem recebida pelo casal carioca que estava para ter sua primeira filha. Pude segurá-la em seus primeiros minutos de vida e isso me fez ter força pra continuar a busca por outras experiências como essa. Em poucos dias tive a oportunidade de fotografar outro nascimento e assim concluir a reportagem.

 

As ideias para o site, cores, fontes, disposição de texto e fotografia, surgiram conforme eu compreendia o assunto e as características do parto. A cor verde remete à natureza que traz a vida. A fonte do título permite a interpretação do momento em que a mãe senta na banqueta de parto para ter seu bebê. A organização das histórias com as fotos compõe uma narrativa que apresenta como principal elemento as imagens.

 

Pretendo por esta reportagem levar as histórias às gestantes que tentam entender qual é o melhor momento para o seu bebê nascer, como acontece, quais são as sensações e como buscar amparo nesses nove meses. Assim como desejo que todos os leitores possam se inserir nesta experiência.

 

Iasmim Amiden dos Santos - iasmim.amiden@yahoo.com.br

Acadêmica de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

 

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